segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Wicca - A religião da Grande Mãe

A Wicca tornou-se popular como uma vertente da Antiga Religião celta e trouxe todos os costumes pagãos para os dias de hoje. É a sucessora de uma das primeiras religiões da humanidade e suas práticas remontam à era Neolítica.

Por ser uma religião matrifocal, onde o foco era na figura e natureza femininas, atraiu muitos seguidores que não estavam contentes com as religiões atuais e com o Deus punidor e cruel da Igreja Católica. A religião tornou-se popular após o ocultista Gerard Gardner propagá-la mundialmente. Um dos lemas da religião, que pode também ser encarada como filosofia é “Faça o que desejar sem a ninguém prejudicar”, pois os wiccanos acreditam na Lei da Causa e Efeito, onde todas as coisas, sejam boas ou ruins, voltam com poder multiplicado por três. Seus seguidores são denominados bruxos, wiccanos, wiccanianos e neo-pagãos.

Representação da união do masculino e feminino, a Deusa e o Deus

A crença na Grande Mãe provedora de tudo e todos faz parte dessa religião politeísta, bem como um universo de seres mitológicos (duendes, gnomos, fadas, silfos e ondinas) pertencentes aos quatro elementos da natureza: fogo, água, ar e terra.

A palavra “wicca vem do inglês arcaico wicce ou do saxão wich que significa “girar, dobrar ou moldar”. A religião busca recuperar o Sagrado Feminino e o papel das mulheres na religião como Sacerdotisas da Grande Mãe. Embora seja uma doutrina com foco na imagem feminina, prega igualdade entre homens e mulheres.

Os seguidores da Wicca acreditam no conceito da tríplice Deusa, em seu aspecto de Donzela, Mãe e Anciã, as fases da vida de uma mulher. A Donzela representa os impulsos, os começos e relaciona-se à Lua Crescente. A Mãe é a doadora da vida, grande nutridora e associa-se à Lua Cheia, e a Anciã é a detentora da sabedoria, grande conhecedora e transformadora, associando-se à Lua Minguante. É provável que o conceito cristão de Pai, Filho e Espírito Santo tenha partido do conceito feminino celta. Os wiccanianos também acreditam no Deus Cornífero, consorte da Deusa, mais conhecido como Cernunnos, deus da Natureza e a força masculina. Depois da fundação da Igreja Católica, o deus de chifres pagão passou a ser visto como o Diabo que conhecemos hoje. Cernunnos representa também o Sol, enquanto a Deusa Mãe, a Lua.Os seguidores da religião, algumas vezes, se reúnem para estudar ou praticar rituais juntos, e esse grupo é conhecido como Coven.



Todo bruxo também tem seus “instrumentos de trabalho” para rituais e encantamentos. Geralmente os bruxos possuem um altar em casa onde colocam seus utensílios, considerados mágicos, que são um Áthame (espécie de punhal), bastão ou varinha canalizadora de energia, Cálice para bebidas (como vinho), Pentáculo, Caldeirão para queimar ervas, vassoura encantada para limpeza energética do ambiente antes dos rituais e o Livro das Sombras, que é um caderno com capa e contra capa de cor preta onde o bruxo faz anotações importantes, como feitiços, simbolismo e guia herbal, por exemplo.

Os wiccanianos também praticam os rituais de conexão com a natureza (Esbats e Sabbats), que são uma série de rituais onde celebram os períodos do ano, de forma a manter sempre o contato e equilíbrio com a natureza. Aqui no Brasil, os seguidores da Wicca costumam seguir a Roda Sul do ano, com os Sabbats adaptados de acordo com as estações e clima daqui.

Os Esbats
O Esbat é a celebração para a Lua Cheia, uma face da Deusa Mãe, comemorado a cada 28 dias, uma vez por mês. 

Os Sabbats
Um Sabbat, por sua vez, é uma celebração onde comemora-se as estações do ano. Os celtas costumavam celebrá-los para agradecer aos deuses por suas colheitas. Também chamados de celebrações da Roda do Ano, são divididos em oito: Samhain, Yule, Imbolc, Ostara, Beltane, Litha, Lughnashad e Herfest. Abaixo, os significados de cada Sabbat:

Samhain
31 de outubro no hemisfério Norte
30 de abril no hemisfério Sul

Esse Sabbat é um dos mais importantes para os celtas, onde comemora-se a Noite dos Antepassados e o Ano Novo Celta. Nesse dia, os celtas lembravam todos os entes queridos que partiram.O Sabbat ocorre no Outono (hemisfério Norte), quando o frio cresce e a morte vaga pela Terra. O Sol enfraquece e as folhas caem, na preparação para o Inverno que chegará em breve.  Nessa comemoração, era costume realizar uma ceia em silêncio, inclusive colocando lugares na mesa para os ancestrais, como forma de lembrá-los. Nessa data também acreditava-se que os portais para os outros mundos estavam abertos, portanto esse dia era considerado como um dos de maior poder. Desse Sabbat originou-se o nosso conhecido Halloween.

Yule
21 de dezembro no hemisfério Norte
20 de junho no hemisfério Sul

Em Yule é comemorado o Inverno, simbolizando morte e renascimento. É a noite mais escura e fria do ano.Nesse Sabbat os celtas comemoravam a colheita e faziam uma grande festa com comida e bebida fartas. Era costume também confeccionar e trocar presentes, além de enfeitar a casa e as árvores. Os celtas traziam para dentro de suas casas uma árvore para que os espíritos da natureza tivessem um lugar confortável para permanecerem durante os dias frios da estação. Esse Sabbat corresponde ao Natal cristão.

Imbolc
2 de fevereiro no hemisfério Norte
1 de agosto no hemisfério Sul

Esse sabbat é dedicado à purificação e às boas vindas para o início da primavera. Era uma festa consagrada à deusa Brighid, ligada aos poderes da Lua e da água.  No Imbolc homenageava-se também as mulheres, consideradas sagradas e guardiãs da sabedoria. Desse sabbath originou-se o festival católico conhecido como festa da Candelária, a Purificação de Maria.

Ostara
20 a 23 de março no hemisfério Norte
20 a 23 de setembro no hemisfério Sul

Ostara marca o equinócio de primavera. Comemorava-se o inicio do cio dos animais e do nascimento das plantas. O festival celebra também a igualdade entre o masculino e o feminino, da luz e das trevas. É um Sabbat também voltado para a fertilidade, simbolizado por um ovo que está sendo formado, marcando um período de transição. A lebre e a coelha eram homenageadas por serem animais muito férteis. A deusa reverenciada nesse Sabbat se chama Eostre. No calendário cristão essa data tornou-se a páscoa.

Beltane
01 de maio no hemisfério Norte
31 de outubro no hemisfério Sul

Esse Sabbat era comemorado como um período de fertilidade em que o Deus e a Deusa se unem para produzir a fartura na natureza. Beltane representa também o amanhecer. Eram realizados danças e banquetes que festejavam a morte do inverno. A celebração de Beltane era comemorada durante três noites, onde os celtas acendiam fogueiras nos campos e dançavam em torno do “Mastro de Maio”.

Litha
20 a 23 de junho no hemisfério Norte
20 a 23 de dezembro no hemisfério Sul

Nesse Sabbat comemora-se o Solstício de Verão, onde o Sol atinge sua plenitude. Festejava-se a luz, alegria, o brilho e o calor. Fogueiras eram acesas aos deuses como forma de agradecimento.

Lughnashad 
01 de agosto no hemisfério Norte
02 de fevereiro no hemisfério Sul

É uma festa tipicamente agrícola, onde se festejava a primeira colheita do ano. Era um hábito fazer pães com os primeiros grãos colhidos. Era um Sabbat dedicado ao deus Lugh, o deus Sol.  Usavam-se máscaras e peles de animais nessas celebrações.

Mabon
22 de setembro no hemisfério Norte
21 de março no hemisfério Sul

Nesse Sabbat comemora-se o equinócio do outono, quando os frutos são colhidos. É um período para se honrar os ancestrais e agradecer pelo ano de aprendizado e lições. A festa é dedicada também ao deus Mabon, que simbolizava os princípios masculinos da fertilidade.


Embora a Wicca seja uma vertente da Antiga Religião e baseada nos conceitos celtas, há pequenas variações, que chamamos de tradições. Cada tradição possui influências de outras religiões ou povos, pois a Wicca é abrangente e encarada por muitas pessoas como filosofia de vida, ampliando o leque de escolhas religiosas de cada um. Abaixo, algumas tradições Wiccanianas:

Tradição 175
Tradição britânica que admite idéias ecléticas. Foi inspirada nas ideias do poeta Robert Chochrane.

Tradição Alexandrina 
Começou nos arredores da Inglaterra em 1960, fundada por Alex Sanders. Muitos rituais são baseados na Magia Cerimonial.

Tradição Britânica
Possui hierarquia e graus, onde rituais são baseados na tradição celta.

Tradição céltica 
Tradição ligada à Terra, com enfoques na natureza, elementos e elementais

Tradição Calendoniana ou Calendonni 
Tradição que preserva os antigos festivais escoceses.

Tradição Picta
Tradição também escocesa, onde seus praticantes possuem poucos elementos religiosos e filosóficos.

Alta Magia 
Conhecida também como bruxaria cerimonial, é a magia mais tradicional, com rituais cabalísticos, egípcios e gregos.

Tradição Diânica
São seguidores da deusa Diana, que assume o lugar da Deusa na religião. Não há deus consorte.

Tradição Georgina
Criada por George Patterson, é uma tradição eclética que mistura todos os rituais e conceitos das outras tradições.

Ecletismo
Os seguidores dessa tradição estão livres para pegar um pouco de cada coisa que lhes pareça interessante. É uma tradição livre que admite qualquer coisa.

Tradição das Fadas 
Tradição que trabalha com elementais e, de acordo com seus seguidores, seus ritos e conhecimentos tiveram origem entre os antigos povos da Europa.

Tradição Gardneriana 
Mais famosa entre os seguidores da Wicca, essa tradição foi fundada por Gerald Gardner, em 1950. Gerald publicou o livro “WitchcraftToday” com uma série de rituais adaptados. Essa tradição tem hierarquias fortes, com a última palavra da Sacerdotisa ou Sacerdote.

Tradição Hecatina 
Tradição que busca inspiração na Deusa Hécate, reconstruindo e modernizando os rituais antigos de adoração à deusa.

Bruxo hereditário ou tradição familiar 
Bruxaria que aparece como herança familiar onde é preciso ter um ancestral bruxo para seguir a religião.

Wicca saxônica
Fundada em 1973 por Raymond Buckland. Tradição onde o bruxo é solitário, sem Coven.

Tradição Strega
Tradição de bruxaria italiana.

Tradição teutônica ou nórdica
Seguidores das tradições e lendas germânicas.

Tradição Asatrú
Tradição que também segue os preceitos nórdicos. Estuda a filosofia e religião da antiga Escandinávia.

Tradição Algard
Fundada por Mary Nesnick, mistura as tradições Gardneriana e Alexandrina.

Tradição Galesa de Gwyddonaid 
Tradição Galesa Céltica que adora o panteão de deuses e deusas gauleses.


Na Wicca há também os chamados “Ritos de Passagem”, rituais sagrados que marcam fases da vida, como, por exemplo, nascimento, crescimento e vivência e morte. Os mais conhecidos e praticados são:

Rito de unção
É como se fosse um batismo pagão. É realizado nos primeiros dias de vida da criança.

Wiccaning 
Ritual de apresentação da criança aos deuses, e onde recebe um nome na Arte (todo bruxo possui um outro nome, usado somente em rituais).

Dedicação 
Marca o início da vida de um bruxo. É o período onde o aspirante estuda durante um ano e um dia antes de se iniciar na vida pagã.

Iniciação
Ritual que marca a entrada da pessoa na bruxaria.

Handfasting 
Casamento pagão, celebrado por sacerdotes.

Handparting
Separação de um casal.

Réquiem (funeral) 
Funeral pagão, onde deuses são convocados para levar a alma do falecido ao País de Verão (espécie de céu para os celtas).


                            


BENÇÃO CELTA 
Que a estrada se abra à sua frente,
Que o vento sopre levemente às suas costas, 
Que o sol brilhe morno e suave em sua face,
Que a chuva caia de mansinho em seus campos.
E, até que nos encontremos novamente,
Que Deus lhe guarde na palma de suas mãos.



Próxima postagem: Alfabeto Ogham.


Bibliografia consultada:

Wicca – A religião da Deusa, Claudiney Prieto, editora Alfabeto, 2012

Série Wicca – A Magia Hoje, edição nº 17, Eddie Van Feu, Editora Escala, 2003.

Série Wicca – Uma Iniciação à Magia, edição nº 01, Eddie Van Feu, Editora Escala, 2001.

Série Wicca – Magia Celta, edição nº 60, Eddie Van Feu, Editora Modus, 2011.

Sabedoria e Magia dos Celtas – Princípios do Druidismo, Ana Elizabeth Cavalcanti da Costa, Editora Berkana, 2003.

Bruxas, Lady Mirian Black, Editora Ícone2012.

Wicca Essencial, Paul Tuitéan e EstelleDaniels, Editora Pensamento, 2001

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